Moda é comunicação e autoconhecimento. É mais que roupa. E muito mais que consumo.

Colorido, áspero, confortável, grosso, neutro, exuberante. Muitos desses adjetivos servem para roupas e pessoas. Como lidamos com nosso vestuário também diz muito sobre nós, porque a moda nos ajuda a expressar nossas identidades. Ela fala sobre quem somos ou o que desejamos transmitir, em uma comunicação visual de cores, texturas, formas, mesmo que a gente nem saiba disso.

O que vestimos não são apenas “pedaços de panos” que cobrem nossos corpos, mas linguagem que se veste de dentro pra fora. Se vestir é se “sentir em casa”. A moda existe para expor sua singularidade e não para impor padrões.

A EXPRESSÃO DO SER 

Segundo Pascale Navarri, em seu livro Moda e inconsciente: olhar de uma psicanalista, “bem antes da linguagem, o visual ocupa lugar fundamental na relação com os outros, relação em que se considera a referência espacial básica, o reconhecimento do idêntico e do diferente, enquanto, progressivamente, se construirá uma imagem de si e dos outros” (p. 34-35). Através do visual moldamos nossa compreensão sobre o mundo, sobre o outro e sobre nós. Essa construção sobre si é, talvez, a busca do desejo de reencontrar o olhar que pousou sobre nós desde o nascimento.

PROFUNDAMENTE SINGULARES

Ainda nos primeiros anos de vida, quando éramos a “criação” mais nova da existência de nossos pais, abrimos nossos olhos para o mundo e buscamos formas de expressar o singular em nós. Talvez esse desejo de exprimir-se através do visual é expressão do anseio mais profundo de refletir como fomos criados: à imagem e semelhança do Criador. Toda essa busca de significantes é para revelarmos quem Ele é através de nós, como a Trindade definiu no Jardim:

“E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança”  (Gênesis 1:26)

O olhar para dentro de nós, como expressões do Eterno, é um movimento. Se conhecer, se revelar, compreender e comunicar nossa identidade única. E nessa ciranda o que vestimos não fica de fora.

DESPERTAR A REVELAÇÃO

Fast. Fashion. Fútil. Talvez sejam essas palavras que vem a sua mente quando tenta definir “Moda”. Na relação entre moda e inconsciente, não olhar para a importância da moda em revelar identidades é uma forma de defesa. Por trás do desejo de não ser percebido, de fugir da moda, também há motivos para se conhecer.

Os olhos fechados, aqueles que olham sem ver e os olhos indiferentes, é o que a moda procura alterar; ela busca despertar o olhar. E, se insistimos tanto sobre sua futilidade, não seria para nos defendermos de sua importância [?] (NAVARRI, 2010, p. 34)

E você, o que faz com a moda? O que ela diz de você? O que você diz através dela?

 

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Texto por: Bell Meira e Stella Sampaio

 

Nossas roupas dizem muito sobre nós, mas isso não é nenhuma novidade. Existe algo que não costumamos estar atentos, o fato de que o universo da moda está diretamente ligado às nossas esperanças. Mais do que nos cobrir por “pudor, arte ou proteção”, nos vestimos para o que virá, para o que esperamos ou o que gostaríamos que nos acontecesse. Compramos armaduras porque esperamos guerra, compramos roupas de festa porque esperamos vencer guerras.

Geralmente, ninguém compra roupas para ficar inseguro ou para a pior possibilidade de fracasso, mas para um futuro bom. A esperança é bem isso, é ter em si a espera de um bem, seja a extensão de um bem presente ou a superação de um mal presente, é aguardar um futuro feliz. Esperança está sempre ligada à religião, porque dá sentido transcendental à vida presente por meio de uma fé naquilo que ainda não vimos, o futuro. Até o não religioso não consegue escapar dessa questão.

Por mais que um indivíduo não participe de uma religião tradicionalmente organizada, carrega no peito esperanças divinas e religiosas. Todos os sistemas de pensamento funcionam assim: oferecem-nos uma pequena narrativa de criação (gêneses) e de futuro (apocalipse) por meio de uma esperança.
Nas passarelas as coleções são sempre futuristas, não fogem disso. Vemos passar por nossos olhos no presente o que será a próxima coleção, vemos como possivelmente será o futuro por meio das roupas que serão usadas. Se as roupas dizem quem somos, vemos nos desfiles como seremos (ou quem esperamos ser), isso é esperança, isso é religião.

A passarela usa roupas sobre os manequins como meio de abrir caminho para um imaginário, as roupas são discursos, vestem-se conceitos, ou seja, é filosofia tecida, cortada, costurada e disposta sobre a pele. O que passa sobre nossos olhos são ideias, mais especificamente, ideias sobre esperanças. Moda é um discurso sobre o que o mundo deveria ser, e até mesmo quando é denúncia de um aspecto negativo da humanidade, aponta para onde ir por meio do contraste. Precisamos nos perguntar: Nossas roupas apontam para onde? Que tipo de esperança carregam? Nossas roupas refletem a esperança cristã? Ou vestimos o desespero?

A relação entre roupa e fé cristã não é difícil de se fazer, a Bíblia trata de roupas o tempo todo. Mas as roupas não aparecem sempre por acaso nos textos sagrados, elas parecem apontar caminhos, como no caso das roupas de folhas de figueira feitos por Adão e Eva, que como são de folhas, não duram muito tempo, foram feitas às pressas por conta da vergonha, são roupas que apontam para o erro do passado. Boa parte da moda contemporânea é folha de figueira. Deus dá a Adão e Eva vestes novas, de couro, feitas pelo próprio Deus. Além de serem mais funcionais e duradouras, carregam o peso de que algum animal doou sua vida para que sua nudez fosse coberta, cobriram-se com a pele de outro, assim como na Cruz o Cordeiro de Deus se entregou para cobrir com Seu sangue o pecado de todos.

Numa espécie de passarela, Cristo Jesus entrou de forma triunfal em Jerusalém, e o que Ele desfilou não foram as vestes do futuro, mas do eterno, uma esperança que não passa, a própria fonte da esperança, a garantia da felicidade eterna.

“Trouxeram a jumenta e o jumentinho, e sobre eles puseram as suas vestes, e fizeram-no assentar em cima. E muitíssima gente estendia as suas vestes pelo caminho, e outros cortavam ramos de árvores, e os espalhavam pelo caminho. E a multidão que ia adiante, e a que seguia, clamava, dizendo: Hosana ao Filho de Davi; bendito o que vem em nome do Senhor. Hosana nas alturas!” (A Bíblia, Mateus 21:7-9).

Jesus é aquele a quem também devotamos nossas vestes e, em vez de suspendê-las como símbolo de esperança, as lançamos sobre o chão para que Ele passe por cima, porque a procura de todas as roupas nos levam até Ele. Ele é a pátria de toda beleza, é o fim de toda culpa e vergonha, o verdadeiro lar das almas onde nenhuma insegurança habita e a esperança suprema de todos que esperam a felicidade eterna.

Precisamos pensar produção de moda e indumentárias alinhavadas pelo crivo da esperança cristã, roupas capazes de expressar o amor sacrificial, a alegria, a paz, a longanimidade, a benignidade, a bondade, a fidelidade, a mansidão, o domínio próprio. Lance suas roupas no chão, o Rei irá passar. Realinhe sua esperança, faça moda a partir dela.

Você já parou pra pensar no significado da palavra moda? Moda surgiu da expressão do latim modus e significa modo, comportamento, maneira. Na língua portuguesa, o substantivo “moda” significa: maneira de vestir; modo, costume, vontade; uso passageiro que regula, de acordo com o gosto do momento, a forma de viver, de se vestir etc. Em francês a palavra mode, se trata de uso, hábito ou estilo, enquanto em inglês, o termo fashion, está mais voltada para a questão produtiva da moda, que significa fazendo, fabricando, isto é, possui um caráter industrial, mostrando inclusive a diferença cultural das sociedades.

A moda e a Sociedade

A questão é que a moda está presente na nossa vida social de maneira quase autônoma, não pede licença pra fazer parte, ela simplesmente faz. Segundo o sociólogo Frédéric Godart (2010), a moda permite definir nossa identidade social, é aquilo que liga e reconcilia o individual e o coletivo, permitindo que o indivíduo faça valer suas preferências dentro de um campo coletivamente determinado.

A moda se manifesta em meio a níveis de ação entre indivíduo e sociedade, pois ao fazermos nossas escolhas individuais estamos reafirmando nossa inclusão ou não inclusão em certos grupos sociais, culturais, religiosos, políticos, profissionais etc.

Para Rocha (2015), apesar de fazer referência a diversos âmbitos da vida coletiva/social, na história, a moda foi expressa de maneira mais forte através do vestuário e da maneira de se vestir, sendo ligada, na maioria das vezes, principalmente à esfera das roupas, possuindo também valor de linguagem. Assim, o indivíduo passou a se comunicar através da roupa que veste e da maneira como se veste e, mais que isso, através do vestuário o indivíduo transmite significados e expressa distinções.

A moda e o Indivíduo

Assim, a moda é, ainda, “relacional”, como afirma Godart, já que as identidades nunca são “puramente individuais”, mas coletivas também, sendo ela produção e reprodução permanente do social. Dessa maneira, pensar moda nos faz caminhar pela compreensão da construção de identidades, e as relações que se formam em meio ao constante movimento de imitação e diferenciação que impulsionou o surgimento da moda.

E pra você, o que é moda? Como ela influencia suas relações?

 

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