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Pornografia na pandemia

O acesso à pornografia cresceu muito desde o século passado por causa do crescimento da internet. Sabemos que a pornografia existe há muito tempo, mas com um veículo facilitador, onde além de mais variedade, muito mais novidades e acesso a qualquer hora, também trouxe certa privacidade a quem consome, já que isso era visto como algo sujo e imoral. A internet fez com que de forma desenfreada a indústria pornográfica faturasse quase vinte vezes mais que nas décadas de 80 e 90.

O pesquisador canadense Simon Lajeunesse diz que a maioria dos garotos começa ver pornografia aos 10 anos. Ele procurou jovens que não fizessem uso de pornografia em várias universidades e simplesmente não encontrou.  Um verdadeiro fenômeno cultural nunca visto antes; enquanto nossos pais e avós precisavam ir às bancas e locadoras, e de forma bem constrangedora conseguir conteúdo pornográfico, nossa geração só precisa de um “click”.

Além do fácil acesso, temos também a pouca ou quase nenhuma proteção. Estima-se que nem metade dos pré-adolescentes, idade em que a maioria teve seu primeiro contato com a pornografia, têm o acompanhamento dos pais no uso da internet. Ao contrário de drogas ilícitas, o vício em pornografia não é visto como uma ameaça ou algo que traga danos à saúde psíquica dos filhos. O cérebro de quem consome pornografia constantemente fica sobrecarregado, afinal não houve tempo evolutivo suficiente para o corpo entender a quantidade de possíveis parceiros sexuais que a pornografia traz, o que explica como decai a excitação com pessoas reais, principalmente quando estão várias vezes com a mesma. Estudos semelhantes foram realizados no Instituto Max Planck do desenvolvimento humano por Kühn e Gallinat. Os pesquisadores analisaram através da ressonância magnética o estriado dorsolateral e córtex pré-frontal (áreas do circuito de motivação e na tomada de decisão), e viram que há redução da massa cinzenta nestas áreas e acrescentaram que isso poderia significar que, o consumo regular de pornografia, mais ou menos, apresenta um desgaste no seu sistema de recompensa.

Durante a quarentena, devido ao Covid-19, muitos sites pornográficos comemoraram o aumento de acesso e, alguns que eram pagos, colocaram seus vídeos gratuitamente para incentivar as pessoas a ficarem em casa. Na Itália, o primeiro país a decretar a quarentena, chegou a registrar um aumento de 57% o consumo em materiais pornográficos ainda em Março, na França, 38% e na Espanha 61%. Um site brasileiro teve o aumento de 50% nas assinaturas diárias. Com as pessoas trabalhando em casa, a Netskope, empresa americana de software de segurança, registrou o crescimento de 600% de acesso à pornografia durante o horário de expediente na pandemia de Covid-19 em relação ao mesmo período no ano passado.

Mas não são somente conteúdos pornográficos comuns que estão sendo acessados. Uma plataforma de games pornôs alcançou a marca de mais 56 milhões pessoas acessando, com um aumento de 40% desde antes da pandemia, segundo o G1.

Enquanto o número de acessos nestes conteúdos aumenta, a Exodus Cry movimentou a internet com uma campanha para derrubar um dos sites mais famosos por conter, além de violência, estupro, abuso sexual, imagens de pessoas (inclusive crianças e adolescentes) que foram traficadas e estão em cárcere. O movimento “Traffickinghub” alcançou dois milhões de assinaturas, e continua crescendo nas redes sociais. Existem muitos crimes por trás destes sites, e quem está acessando deve ter essa consciência que a  indústria pornográfica financia o tráfico humano, induz a violência contra mulher, propaga a violência sexual infantil, além de ser prejudicial à saúde física e psicológica de quem consome e de sua família, trazendo alterações comportamentais, sociais e biológicas. Não existem benefícios, mas como qualquer outro vicio, pode ser muito difícil de parar, e para isso tem muitas formas de alcançar ajuda, seja em grupos de apoio, movimentos na internet, aconselhamento e amigos. Só não precisa ficar sozinho. Conversar e questionar sobre o assunto é o primeiro passo.

 

TEXTO DE: BRUNA NAZÁRIO