Tenho recebido uma série de pedidos de socorro pela internet. São pessoas abrindo suas vidas, usando as redes sociais em busca de aconselhamento na área da sexualidade. Sabe o que é triste? Não lerei todas aquelas histórias…
Um dia desses esbarrei com um pedido intitulado “Socorro! Me ajude!” – que ficou ecoando dentro de mim. Fui vasculhar a série de pedidos semelhantes até achar esse em particular.
Ele: “É a senhora mesmo?”, respondi que sim e seguiu a mensagem: “Deus deve estar nisso porque já estou com o veneno de rato aqui em casa e quando ia tomar, resolvi entrar na internet pra me despedir da minha mãe e vi sua mensagem! Não aguento mais sofrer com a homossexualidade e dependência emocional”.
Apesar da distância, dava para sentir a angústia do rapaz. Pensei em colocar alguém próximo a ele. O desafio seria: quem? Lembrei de um amigo e jovem pastor. No outro dia, aquele que estava à beira do autoextermínio, estava vivo, e me contou que a conversa com ele foi muito especial. O pastor enviou um link de uma pregação sua. O rapaz assistiu e se deparou exatamente com a mensagem que um mês atrás tinha visto às vésperas de se enforcar e não o fez porque resolveu se dar uma chance perguntando ao Google o que ele tinha a dizer sobre Deus e os gays.
Eu o motivei a vir fazer nossa escola de sexualidade. Tempos depois, um rapaz senta ao meu lado na escola e me pergunta: “A senhora lembra de mim?” Era ele! Pensei: “Como poderia me esquecer!? Estávamos à beira da morte juntos!”.
Lembro do dia em que ele perdoou o pai – a quem atribuía a culpa por ter sido abusado sexualmente e com quem nunca teve vínculo afetivo suficiente para tê-lo como referência masculina. Sofreu, mas cuspiu o veneno da amargura e ressentimento que o intoxicava.
Algumas semanas depois, ele disse que estava firme numa igreja. Soava radiante. Só que a alegria teve dias contados porque no afã de ser transparente com a liderança, ele confessou sua lida com a atração homossexual, e no outro dia, verificou que já estava excluído dos grupos da igreja, especialmente nos que tinham rapazes.
Foi devastador! Quando me contou a história, estava às margens de uma represa, questionando: “Até quando?”. Esse é o tipo de pergunta que mereceria uma ótima resposta além da que tive para dar: “Não sei, meu querido!” . O que eu diria além da verdade? E a verdade era essa: eu não saberia dizer até quando seria tratado como escória, aberração ou inimigo de Deus.
Tentei encorajá-lo a lembrar do dia que entendeu o significado da Cruz de Jesus, vendo o corpo do Cordeiro de Deus ser partido e o sangue derramado por ele! Tentei lembrá-lo que porque recebeu uma porção de fé para crer no Cristo morto no lugar dele, também poderia se lembrar que Ele ressuscitou e que por estar em Cristo pela fé, ressuscitou com Ele! Por isso e somente por isso é filho amado de Deus – santo, puro e perfeito, porque é visto pelo Pai através do Filho – em quem está escondido! O desafiei a amadurecer na vida santa destinada aos que são Dele! Diante da represa e das palavras, ele deu passos para trás e recusou desistir. Desde então, tem aprendido a árdua, porém indispensável lição, chamada resiliência.
Que Cristo reconciliou nEle TODAS as coisas – até a sexualidade humana – nós sabemos porque está escrito. Mas será que cremos nisso mesmo? A pergunta “Até quando?” mostra que ainda há um percurso pela frente. O rapaz encontrou outra igreja e tem estado bem. Glória a Deus por isso! Mas sejamos honestos. Ainda faltam outros pedidos de socorro para ler, e a caixa postal da igreja – minha, sua, nossa – ainda está cheia!”
Texto: Andrea Vargas
Publicação: Revista Ultimato